CIDADE

Laene ComVida: 'Acenda a luz, Jesus!'

02/02/2024 14:00




 Não há luz própria que resista à falta de compromisso da fornecedora mineira de energia com a pessoa cuja casa está sem luz. Apagam-se minha educação e humor:

“Não quer saber a cor da minha calcinha?”, baixo o nível, depois de pacientemente informar meu CPF, o número da instalação na conta, confirmar endereço, nome completo, aguardar por três vezes os “só mais um instante”, verificar os disjuntores internos da casa e reafirmar que não! A energia não voltou.

Arrependo-me de perder a paciência com o coitado do atendente amestrado, pago para me responder de forma robótica.

“Entendo, senhora, estarei abrindo a solicitação, mas preciso que me confirme mais alguns dados”, o moço repete no irritante gerúndio.

Realmente eu queria compreender o protocolo de atendimento da companhia elétrica. Se já provei que eu sou eu, revelei o número da conta, para que diachos preciso de mais confirmar?

 Após 14 minutos, ele ainda não finalizara meu pedido para que a empresa fosse verificar o ocorrido, atendendo ao meu direito: se a luz foi embora, a senhora firma monopolizadora do serviço tem o dever de verificar e consertar!

Antes desse péssimo teleatendimento, eu tentara algumas vezes pelo “fale conosco” do site e pelo WhatsApp. Em ambos, após digitar meu CPF, constatar que estava sem luz, informar o tal número da conta, confirmar o endereço do reparo a ser feito, autorizar que entrassem em contato comigo caso precisassem, aparecera na tela o aviso “aconteceu um problema e não consegui prosseguir com a solicitação. Por favor, tente novamente mais tarde”.

A gente espera nos consultórios (equipados com TV, ar-condicionado, bebedouros, cafés e biscoitinhos), mas seremos atendidos. Esperamos nas filas de supermercados e do SUS, enquanto chega a nossa vez.

Esperar não é o problema. O inconveniente é aguardar sem sentido, sem precisão. Para atender a protocolos e normas, a maioria das esperas nos teleatendimentos é um estorvo!

Por isso, a gente evita os canais de comunicação, em especial das fornecedoras de energia, prestadoras de crédito e telefônicas. Suportamos serviços meia-boca para não nos aborrecermos em contatos absurdos e irritantes. Em plena era de aplicativos e inteligência artificial, chega a ser bizarra a lerdeza em registrar um básico pedido de verificação de problema técnico:  “Senhora, obrigado por aguardar, tlec, tlec (barulhinho da digitação no teclado), estou quase concluindo, tlec, tlec, tlec.”

Se o sistema operacional da empresa obtentora de um lucro líquido de R$ 3,87 bilhões (de janeiro a setembro de 2023, segundo seu site) está obsoleto, há algo errado no paraíso.  Se por um lado, a empresa enaltece que o “resultado reforça o compromisso da Companhia na agregação de valor aos seus acionistas”, por outro, tem perdido valor nos serviços prestados junto aos clientes.  No ano passado, no www.reclameaqui.com.br, foram registradas 8.646 reclamações contra ela, identificada como empresa de reputação ruim (nota 5,7 em 10).

Há quem defenda a privatização (ou corporação) da Companhia Energética de Minas Gerais, alegando eficiência dos serviços: “A empresa vai se tornar mais competitiva e ágil.” Ágil pra quem, meu Deus do céu?

Alguém aqui acredita que, controlada por acionistas privados, nossa Cemig vai agregar valor ao serviço e ser eficiente em nos atender? Acha que as tarifas não serão alteradas de acordo com a visão empresarial do lucro-lucro?

Se controlada, por enquanto, pelo Estado, a companhia foca no acionista, imagina se o controle passar para mãos de ricos investidores... vemos esse filme com as telefônicas que foram privatizadas: atendimento precário, reajustes unilaterais nos contratos...

Se tivesse que lidar com os canais de atendimento das empresas modernas, Jó não seria famoso pela sua paciência e Jesus retomaria o chicote, irado com a mercantilização das necessidades fundamentais à vida humana: água, luz... Não tem Cristo nem santa que aguente!







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