Mariza de Paulo Bragança - Diretora da Conafill/Consultoria, Auditoria e Assessoria Fiscal (Abre Campo); mestre em Ciências Contábeis; especialista 'lato sensu' em Perícias Contábeis, Auditoria e Controladoria; e professional and self coaching/PSC pelo Instituto Brasileiro de Coaching/IBC
Neste momento todo os setores públicos - federal, estadual e municipal - estão envolvidos em elaborar o Orçamento Público para 2024. Trabalho diretamente com a elaboração de orçamentos e, atualmente, também estou lendo e estudando sobre o conceito de felicidade. Quando pensamos em uma vida feliz, associamos a essa ideia o sentido das nossas vidas, o que fazemos e que vale a pena ser feito.
A felicidade envolve o quanto minhas ações impactam a vida dos outros além de mim, tornando as coisas ao nosso redor maiores que nós mesmos. Quando votamos, porém, não pensamos na felicidade como um bem para nós e para o outro, para o coletivo. Pensamos no prazer e na alegria da derrota do outro (“adversário”) sem pensar ou estudar a origem e a forma como as políticas públicas serão conduzidas. Transformamos um bem valioso que nos traz felicidade, a liberdade de votar, em uma corrente que nos prende a um ato político de prazer momentâneo.
A felicidade acontece no nosso dia a dia através de ambientes que nos acolhem e nos fazem sentir segurança, mesmo em situações complexas. Não envolve estarmos em um ambiente sem problemas, o que seria ilusório. Assim, é importante que a comunidade pense nas políticas públicas que são votadas nos nossos municípios como meio de atingir a felicidade coletiva por medidas que acolham e tornem nosso ambiente mais seguro. Por vezes, ouvi críticas a programas sociais como bolsa-família, cirurgia plástica para recomposição de mama, recuperação de museus, entre outros programas, criticados pela falta de conhecimento do que é uma política pública e do que ela representa para a sociedade.
Estamos acostumados a pensar nos programas sociais e outras políticas públicas como meio de corrupção, e não como forma de resgate da dignidade humana, do acolhimento e da segurança que pode produzir a constância da felicidade. Felicidade pressupõe autonomia para agir, liberdade para escolher e responsabilidade no agir. Indivíduos com fome, mutilados e sem cultura, não atingem nenhum desses atributos.
Precisamos refletir no quanto somos responsáveis pela construção de ambientes coletivos tóxicos e infelizes no nosso dia a dia, por não querermos nos responsabilizar pelas escolhas que fazemos em todos os nossos atos políticos.
Políticas públicas são, sim, responsáveis por ambientes mais felizes quando atuam para nutrir o coletivo de bem-estar. Ruas limpas e calçadas, tratamento de água e esgoto, ambientes de lazer e cultura, como teatros, feiras, cinemas, transporte seguro, trânsito seguro e muitas outras políticas públicas transformam a vida da coletividade.
Pensar em quanto nossas escolhas para o coletivo estão impactando nossa felicidade individual pode ser um bom caminho para nos tornamos seres humanos de verdade.