A história urbana de Ponte Nova começou com a capela erguida em 1770 e com a ponte sobre o rio Piranga, reconstruída com pedra, naquela década, após os danos provocados pelas enchentes nas antigas estruturas de madeira, que também foram queimadas em ataques dos índios.
Logo, é relevante o tombamento do Núcleo Histórico Urbano de Ponte Nova, por sua importância histórica e seu valor histórico, cultural, arquitetônico e estilístico. Classificaram-se 182 imóveis em função de suas características e padrões históricos. Tombou-se inclusive o calçamento de paralelepípedo. Nesta e nas nove páginas seguintes, uma visão geral da temática desta edição de aniversário.
IEPHA e diretrizes para 2024
“A Prefeitura Municipal de Ponte Nova preocupa-se em zelar por um meio ambiente saudável e por uma herança cultural que distinga e identifique os diferentes grupos sociais deste município, bem como em promover ações para a preservação do patrimônio ambiental e cultural.”
Assim Bruna Caldas Cordeiro/arquiteta e urbanista e Rogério Stockler de Mello/coordenador geral iniciam a apresentação, perante o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico/IEPHA a apresentação do denso inventário com as diretrizes recomendadas para o ano de 2024 sob aval de Fernanda Ribeiro, dirigente da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Comunicação.
A equipe do prefeito Wagner Mol/PSB atualizou, ainda em fins de 2022, as informações coletadas sobre os bens culturais inventariados e a serem inventariados:
- Cemitério dos Escravos; prédio da extinta Favap; Hotel Glória; Pontilhão Férreo; Residências das Famílias Brant Ribeiro e Pinto Coelho; Hospital de Nossa Senhora das Dores; acervo do Arquivo Público; imagem de São Sebastião; Núcleo Histórico Urbano; Locomotiva a Vapor/Ana Florência; Fazenda Paciência; Goiabada Cascão; Corporação Musical União 7 de Setembro; e Roda de Capoeira e/ou Ofício de Mestre de Capoeira.
O Patrimônio é tudo o que nos é transmitido como uma herança. O Patrimônio Histórico Cultural remete à riqueza simbólica e tecnológica desenvolvida pelos grupos humanos que nos antecederam. Trata-se de um conjunto de conhecimentos e realizações de uma comunidade, acumulados ao longo de sua história, que conferem os traços de sua identidade.
Com este conceito, esta FOLHA decidiu comemorar o 157º aniversário de Ponte Nova com registro fotográfico e oportunos textos sobre nossos bens.
História e geografia do nosso patrimônio histórico
A origem da cidade remonta ao tempo em que a Coroa Portuguesa ofereceu terras (sesmarias) para ocupar o Sertão do Guarapiranga, a partir de 1740. Portando carta de sesmaria, o padre João do Monte de Medeiros estabeleceu-se aqui em 1763, fundando a Fazenda do Vau-Açu (hoje Santa Helena).
O nome da cidade veio da “ponte nova”, construída em 1770 com autorização da Câmara de Mariana - via comissão de pessoas oriundas do arraial de Furquim -, para substituir a antiga, em ruínas, na Cachoeira do Medo.
Passagem de viajantes, o local ganhou “ponto de parada e abrigo de vigia contra a ação dos índios, que invariavelmente atacavam a ponte para dificultar a vida dos invasores”.
As atenções da Província se voltaram para a nossa região desde 1692, quando o bandeirante Antônio Rodrigues Arzão descobriu o rio Piranga, como registrou Diogo de Vasconcelos em “História Antiga de Minas Gerais”. Só cerca de 50 anos depois, todavia, com a já citada necessidade de abastecer Ouro Preto e Mariana, houve o povoamento daqui.
Surgiram então cartas de sesmarias e as primeiras fazendas: Quebra-Canoas (cuja sesmaria data de 11/4/1740), Palmeiras, Quebra-Potes, Chopotó, Córrego Grande, Ventania, Vau-Açu (do padre-fundador), Paciência (1768), dos Quartéis (em 1760, em Amparo do Serra), Oratórios de Baixo (terras doadas pelo Governo/MG em 1758) e outras.
Reforçaram-se as estradas ao se perceber, por aqui, passagem da Capital da Província para o Espírito Santo. Já em 6/7/1770, padre João do Monte de Medeiros conseguiu autorização do Bispado de Mariana para construir uma capela em louvor a São Sebastião, no local onde hoje está a Igreja Matriz do Centro Histórico.
O povoado cresceu, mas só em 11/7/1857 foi transformado em vila, tendo Câmara Municipal a partir de 26/4/1863 e elevando-se à condição de cidade ao desligar-se de Mariana em 30/10/1866 (a cidade possuía pouco mais de 200 casas e 120 estabelecimentos agrícolas).
Originaram-se, dos limites primitivos pontenovenses, os municípios de Manhuaçu (1877), Abre Campo (1889), Rio Casca (1911), Jequeri (1923), Barra Longa (1938), Santa Cruz do Escalvado (1948), Amparo do Serra, Piedade de Ponte Nova, Rio Doce e Urucânia (1962), além de Oratórios (1996).
Os fazendeiros pontenovenses tinham influência na Capital da Província: além de ocupar o Leste da Província e de abastecer Mariana e Ouro Preto com carne e produtos da terra, tinham a função implícita de conter os índios aimorés.
De fato, conta o historiador Couto Magalhães que para cá vieram, refugiados, os bravos indígenas do litoral de São Paulo, além dos derrotados na Guerra dos Tamoios no Rio de Janeiro. A Província construiu fazendas/prisões (a Décima, em Urucânia, é uma das remanescentes) para confinar índios capturados.
Educação patrimonial - Matheus Oliveira (*)
Primeiramente, agradeço e parabenizo a FOLHA por esta importante edição dos 157 anos de Ponte Nova. Através desta iniciativa, temos uma relevante ação de educação patrimonial e difusão do nosso patrimônio histórico e cultural.
Nosso município, nos últimos anos, vem-se destacando nesse quesito no programa estadual do ICMS Patrimônio Cultural, obtendo pontuação máxima e consequentemente conseguindo mais recursos.
A construção de uma política pública de educação patrimonial precisa estabelecer um diálogo permanente, de fácil compreensão e que crie uma troca de conhecimento entre a população e a Administração Pública.
É preciso compreender que o patrimônio cultural não se resume aos bens imóveis, existe um “patrimônio vivo” nas celebrações, artesanato, modos de fazer e outros, que devemos nos conectar para preservar.
Ponte Nova apresenta um patrimônio cultural riquíssimo desde as usinas de cana-de-açúcar e o patrimônio ferroviário, até os mais variados estilos arquitetônicos presentes no Núcleo Histórico.
Todos esses bens expressam a formação histórica da cidade. A educação patrimonial auxilia na formação da identidade e no sentimento de pertencimento.
A educação patrimonial permite novos significados e interpretações, e nesse sentido podemos compreender como um processo de “alfabetização cultural” e, ao mesmo tempo, um olhar sociológico sobre as transformações da cidade e das manifestações culturais, cada vez mais necessária, tendo em vista a “correria cotidiana”, que faz passar despercebidas a presença ou não desses bens.
(*) - Coordenador de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Comunicação/SMCTC e presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico.
Pontilhão de Ferro
O Pontilhão de Ferro sobre o rio Piranga é um bem imóvel tombado em 2006. Sem a ferrovia, extinta nos anos 1970, mantém sua consagrada utilidade como passarela entre os bairros Triângulo/Vila Centenário e Palmeiras.
A estrutura metálica foi trazida da Inglaterra pela Leopoldina Railway em 1910. A Inauguração ocorreu em 1911. O monumento recebeu o nome de Manoel Cavalcanti de Albuquerque, em homenagem a um dos engenheiros que ali trabalharam.
É oportuno lembrar que a ferrovia chegou a Ponte Nova muito tempo antes. A Estação Ferroviária do Chopotó foi inaugurada em 30/6/1886 com presença do imperador dom Pedro II, da imperatriz Tereza Cristina e de uma grande comitiva.
Atualmente há empenho na preservação do que restou da estrutura férrea, com atividades a cargo do Núcleo de Preservação Ferroviária de Ponte Nova.
Arquitetura e urbanismo na história de PN - Luciano Sheikk (*)
Ponte Nova já foi considerada uma das mais belas cidades de Minas Gerais. Se a urbanização se iniciou em 1770, com a doação de terreno feita pelo padre João do Monte de Medeiros, no final dos anos 1800 o planejamento e os traçados do bairro Palmeiras surgiram como ato revolucionário no urbanismo. Antes disso, a arte e a cultura marcavam presença na arquitetura das fazendas com seus oratórios e outras formas de arte sacra.
Já no início do século XX, construíram-se os casarões, principalmente no Centro Histórico. Ergueu-se o Hotel Glória, recipiendário de turistas em viagens e a passeios, classificado entre os melhores do Estado.
Alguns nomes são memoráveis no design das edificações, os quais chamaram a atenção da imprensa estadual: João Bello Lisbôa, Francisco Seno, Pedro Crivellari, Ângelo Crivellari, Aldo Aviani e outros.
Destaque - entre 1919 e 1926 - para a Igreja Matriz São Sebastião, cuja assinatura arquitetônica é do padre Vienken, o mesmo que projetou o anexo do Colégio Arnaldo/BH, resultando na edificação de um dos mais belos templos mineiros.
Temos, ainda, na cidade, outros edifícios marcantes, a exemplo da sede do Pontenovense Futebol Clube, Edifícios Rex, Estrela do Oriente, Fundição Progresso (A Fonseca), o Hospital de Nossa Senhora das Dores e casarões tantos, que ainda resistem à ocupação urbana há mais de cem anos.
Sobressaem os pujantes traços arquitetônicos das primeiras escolas: Nossa Senhora Auxiliadora, EE Senador Antônio Martins, o extinto Colégio Dom Helvécio/hoje Instituto Montessori e EM José Mariano.
Apenas lamento que os primeiros nomes dos logradouros do bairro Palmeiras sucumbiram quase sem remanescentes. As vias públicas receberam nomes indígenas numa homenagem aos primeiros habitantes de Ponte Nova e, ao longo dos anos, substituíram-se as denominações. Entre outras, estas foram perdas irreparáveis de nossa história cultural.
(*) - Historiador, autor dos dois livros “Pesquisa da História da Literatura em Ponte Nova”, viabilizados em parceria com a Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova/Alepon através da legislação/MG de Incentivo à Cultura.
Hotel Glória
O edifício do antigo Hotel Glória de Ponte Nova foi inaugurado em 1925 por Sebastião Drummond e Antônio Pinto de Oliveira, tornando-se um dos mais luxuosos do Estado. Hospedou políticos e personalidades, a exemplo de Juscelino Kubitsheck. O estilo art noveau do imóvel foi exaltado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico-MG/IEPHA.
O hotel encerrou suas atividades em 1960, mas com o edifício funcionando parcialmente com outros usos até 1996, quando foi completamente fechado.
As fachadas foram tombadas em 2008 pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e Natural de Ponte Nova, contudo os anos de abandono deixaram a estrutura geral comprometida. Em anos recentes, debateu-se projeto de restauração, com vários entraves burocráticos e contratempos de engenharia.
Em meses recentes, a Prefeitura encaminha nova versão do projeto (com apoio estadual), baseado em estudo preliminar da Codemig/Codemge. O orçamento é de R$ 6,4 milhões, prevendo-se oficialmente sua conclusão em 30/11.
Leis sobre proteção do Patrimônio
* 20/12/1990 - Regulada a forma de proteção do Patrimônio Cultural e Natural/PCN.
* 15/1/1991- Instituído o Conselho Consultivo do PCN.
* 25/1/2011 - Estabelecimento do conceito de Patrimônio Cultural.
* 28/2/2014 - Regulamentado o Sistema Municipal de Cultura.
* 2/9/2015 - Instituídos parâmetros de registro de bens culturais de natureza imaterial ou intangível.
Nota da Redação - Esta edição histórica baseou-se em documentos e pesquisas municipais, dos quais retiramos os principais fatos, datas e fotos.
O Rio Piranga
O Rio Piranga foi tombado em 2008 como Monumento Natural e Patrimônio Paisagístico e Turístico. Em suas margens, surgiu a cidade e uma das passagens sobre o curso d’água - a ponte nova - deu origem ao topônimo municipal.
O tombamento, no entanto, surgiu como forma de impedir a instalação de novas barragens hidrelétricas. Tanto que o texto municipal - editado pelo então prefeito Taquinho Linhares/PSB - veda quaisquer obras ou serviços que alterem ou descaracterizem drasticamente a paisagem natural do trecho pontenovense do rio.
O Município inventariou outros locais:
1 - A corredeira do ribeirão Oratórios (afluente do Piranga) merece atenção em trecho abaixo do perímetro urbano, depois de passar por Ana Florência. A preservação do sítio, incluindo a mata ciliar, se faz indispensável para a preservação da biodiversidade.
2 - No distrito do Pontal, a “Fonte dos Tucanos”, com área de pouco mais de três hectares, onde se encontram 10 olhos d’água (nascentes). Desde a data de elaboração do inventário, houve uma evolução na massa verde nessa localidade.
3 - A Ilha da Garça, no rio Piranga (abaixo do distrito do Pontal), foi inventariada para conservação dos ecossistemas associados. Além disso, as construções, a roda d’água e a balsa são testemunhos históricos de um modo de vida que é considerado significativo culturalmente para os moradores de Ponte Nova.
4 - O Município considera ainda o chamado “conjunto de bebedouro natural e gameleira”, relevante paisagem natural nos arredores da localidade de Chopotó. Diz o texto da SMCTC:
“Atualmente, sem o sinal da mina de água, o local perdeu parte dos valores que sustentavam a sua preservação. A pedra semicircular que abrigava a água proveniente da pedreira já não cumpria mais sua função, tendo sido removida, destruída ou roubada. Recomenda-se a manutenção da proteção legal, pois a gameleira ainda se encontra no local e considera-se que pode ser possível recuperar a nascente e transformar o local em um bem significativo para a comunidade.”
Fazenda do Vau-Açu
A Fazenda do Vau-Açu foi uma das pioneiras referências na ocupação do Sertão do Guarapiranga. A construção foi tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico por sua importância cultural para a cidade.
Segundo o historiador Antônio Brant, documentos indicam que em abril de 1768 o padre João do Monte de Medeiros já havia instalado a Fazenda, dotando-a de casa–sede, senzala, depósito e curral de porcos.
O padre foi o terceiro da mesma família a se instalar nestas paragens. Em 1755 chegou Miguel Antônio do Monte Medeiros com uma carta de sesmaria, datada de 27/2/1755, fundando, no ano seguinte, a Fazenda da Vargem Alegre.
Já em agosto de 1756, chega Sebastião do Monte Medeiros da Costa Camargo e funda a Fazenda do Córrego das Almas, tendo assumido o comando das ordenações do Distrito de Ponte Nova.
Em 1763, chega João do Monte, recentemente ordenado padre, instalando a Fazenda do Vau-Açu.
Junto com esses pioneiros, vieram vários outros sesmeiros, que foram expandindo o desenvolvimento regional numa rede agrícola cuja principal renda era a exportação de gêneros alimentícios para Mariana e Ouro Preto.
Como se sabe, a Fazenda do Vau-Açu, erguida à margem do ribeirão Tavoassu, fica na localidade de Santa Helena e teve em anexo, por muitos anos, uma usina de produção de açúcar e aguardente, fundada em 1939 por iniciativa do ex-presidente Arthur Bernardes.
Usina Ana Florência
A locomotiva a vapor retida nas imediações das ruínas da Usina Ana Florência também foi tombada. Ela é símbolo da pujança do projeto dos irmãos José e Francisco Vieira Martins, que em 1883 contrataram a empresa Thompson Black e Cia., da cidade de Campos/RJ, para montagem da usina. O maquinário adquirido na Inglaterra chegou de navio no Rio de Janeiro. De lá, em vagões de trem, houve o transporte até São Geraldo/MG. Daí, um comboio de carros de boi trouxe os equipamentos até a Fazenda do Pião, onde morava o casal José e Anna Florência Martins.
A construção aconteceu entre os anos de 1883 e 1885. Em sua inauguração, centenas de pessoas foram assistir ao processo de fabricação do “açúcar branco”. Até então, os engenhos locais fabricavam o açúcar de fôrma, de cor escura, “o dos antigos engenhos” .
Para escoamento da produção, houve a construção de pequena linha ferroviária, que saía da EF Leopoldina e, passando por Ana Florência (cuja estação só foi inaugurada em 1913), ia até a Fazenda São João/Oratórios.
Com o fechamento da usina, em 1988, a vila foi transformada - nos anos seguintes - em bairro de Ponte Nova.
Arquivo Público
Em 1971, a professora Olívia Marina de Avellar Senna apresentou, no VI Simpósio Nacional de Professores Universitários de História, em Goiânia/GO, seu trabalho sobre “Arrolamento das fontes documentais históricas de Ponte Nova”. Ela listou o conjunto de jornais editados no Município (desde 1886) e identificou 14 “arquivos” ou fundos documentais diferentes, a saber:
- Paróquia São Sebastião (1833), Câmara e Cartórios de Notas,1o Ofício e 2o Ofício e Privativo do Crime (os quatro de 1863), Cartório de Registro de Imóveis (1874), Cartório Distribuidor, Contador, Partidor e Avaliador Judicial (1882), Cartório de Registro Civil (1889), Cartório de Títulos, Documentos e Protestos (1923), Paróquia São Pedro e Cartório do 3o Ofício (ambos de 1926), Prefeitura (1930) e Paróquia Santíssima Trindade (1966).
Em 1937, surgiu o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o interesse pela preservação do acervo local avançou nos anos de 1940, ao longo da gestão do prefeito Otávio Soares. Seu secretário de Administração, professor Mário Clímaco/foto, liderou o trabalho de catalogação dos documentos da Câmara.
Em 1993, o professor Ângelo Alves Carrara, do Departamento de História da UFOP, atuou na formação do Arquivo Público Municipal, cuja responsável era a incansável Isabel Martins de Oliveira Penna. Em 21/12/1993, a Câmara aprovou a Lei 1.908 instituindo o Sistema de Arquivos do Município, o qual só teve novos avanços entre dez/2006 e dez/2008, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa/MG.
A documentação do período de 1863/1945 foi higienizada e inventariada, havendo tombamento provisório desta documentação em 2014. Em 2007, incorporou-se, ao acervo do Arquivo, o Fundo Documental do Cartório do 1o Ofício de Notas (1863-1945).
Entre 2015 e 2016, novas providências: lei municipal adequou as competências do Arquivo Público Municipal à legislação. Houve aquisição de equipamentos para montagem de laboratório de conservação de documentos, reformaram-se o telhado e as instalações elétricas e implantaram-se isolamento térmico e forro, tudo com financiamento do Fundo Municipal de Cultura, aprovado pelo Conselho do Patrimônio Cultural e Natural.
(Texto adaptado de artigo de abril/2016 assinado pelo então chefe do Arquivo Público, o historiador e restaurador José Geraldo Begname)
A goiabada cascão
A goiabada cascão da região de Ponte Nova motivou inventário em 2014. Para elaboração de relatório científico, realizaram-se levantamentos em campo durante o segundo semestre de 2021, seguindo as condições prescritas na Portaria Municipal no 6/2021. A metodologia aplicada a este trabalho compreende pesquisa e coleta de dados orais. Agrupou-se também levantamento fotográfico e audiovisual.
Com isso, a Prefeitura apresentou em 2022 o registro da fabricação do doce para aprovação pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico/IEPHA. Consta no texto municipal: “O relatório de implementação das ações e de execução do plano de salvaguarda do bem imaterial constitui um avanço, a partir do momento em que auxilia na construção e recriação da identidade municipal.”
Informou-se que a goiabada cascão tem forte ligação com a história microrregional: “Durante o século XIX, Ponte Nova e suas imediações contavam com engenhos de produção açucareira, constituindo ambiente propício para o feitio de doces, compotas, geleias, quitandas.”
Assim conclui o texto: “As receitas familiares atravessaram gerações, resistindo ao tempo e às modernizações. O sabor marcante ainda é capaz de evocar aos habitantes de Ponte Nova o sabor da infância, entre os quintais e pomares.”
Hospital de Nossa Senhora das Dores
O surgimento do Hospital de Nossa Senhora das Dores/HNSD contou com dedicação e empenho de muitos moradores de Ponte Nova e dos fazendeiros da região. O fato de o padre João Paulo Maria de Brito, vigário da Paróquia São Sebastião, encontrar - morta na sarjeta - uma senhora pobre o sensibilizou em 1871 para idealização de “um lugar que acolhesse os doentes e lhes desse a chance de se curar e sobreviver”.
Reunindo médicos, farmacêuticos, políticos, fazendeiros, populares e religiosos, o vigário conseguiu o projeto, encaminhado por uma Irmandade sob as bênçãos de Nossa Senhora das Dores.
A Comissão Construtora tinha à frente o médico Leonardo José Teixeira da Silva e frei Paulino Vicente Fabbri, que administrava a obra. Em 12 6/1872, o arcebispo de Mariana, dom Antônio Viçoso, assinou a Carta de Provisão instituindo e dando legitimidade ao projeto de filantropia.
Com quermesses, pedidos de ajuda, doações e auxílio de muitos voluntários, viabilizou-se a captação de recursos para se erguer, em dois anos, o segundo hospital de Minas Gerais (o 1o foi a Santa Casa de Ouro Preto). A inauguração aconteceu em 21/9/1873.
Desde a sua inauguração, o HNSD contou com donativos da comunidade para manter o atendimento microrregional. Também o imperador do Brasil, dom Pedro II, em visita à instituição (em 30/6/1886), efetuou doação de 400 réis. O tombamento do prédio-sede ocorreu via Decreto no 1.999/ 2010.
Cemitério dos Escravos
O Cemitério dos Escravos provavelmente tem mais de 200 anos e ficava em terreno da antiga Fazenda da Urtiga, no distrito do Rosário do Pontal. O terreno passou por diversos donos, até ser incorporado pela Fazenda do Pontal nos anos 1990.
A data exata da construção não é precisa, mas há indicativos de sua instalação no último quartel do século XVIII. A idealização teve como motivo o fato de que os negros não podiam ser enterrados no mesmo local em que as pessoas de pele branca. Essa população era de maioria nagô, proveniente das áreas africanas onde hoje se situam países como Benin, Togo e Nigéria.
Apesar dos anos que se passaram, a construção permanece como alvo de vários visitantes, palco de celebrações católicas e de origem afro, com ênfase para rituais em devoção às almas. A preservação do bem se faz importante pela representatividade simbólica e por guardar a memória de um povo e de uma cultura que foi degradada pelo regime de escravidão. O bem inventariado foi tombado via decreto municipal de 13/5/1999.
Pesquisas históricas indicam que Ponte Nova tinha em 1875 um total de 8.343 escravos. Sabe-se que na emancipação do município (1866) a proporção era de três negros para cada branco.
Igreja Matriz São Sebastião
A Igreja Matriz da Paróquia São Sebastião foi tombada pelo Decreto no 11.219/2019. O tombamento se estende à imagem do padroeiro.
A primeira capela sob invocação do santo foi erguida em 1770, no mesmo local, pelo padre João do Monte Medeiros. A Paróquia foi criada em 1832 através de lei da Regência Trina do Império. A antiga igreja (que substituiu a capela original) foi construída em 1860, ainda com traços coloniais. Ela foi parcialmente danificada por um incêndio em 1915.
Decidiu-se, então, pela construção de novo templo em estilo neogótico no ano de 1919, por iniciativa de padre José Maria Parreira Lara, então pároco. A consagração da nova Igreja Matriz ocorreu em 26/4/1926, em celebração comandada pelo então arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira.
Outras igrejas são tombadas pelo Patrimônio Histórico de Ponte Nova, a exemplo da Igreja Nossa Senhora do Carmo/Chopotó, datada do final do século XIX. Em 2016, tombaram-se as Igrejas Nossa Senhora do Rosário do Pontal e do bairro do Rosário.