Esta FOLHA divulga relato sobre a história do Carnaval em Ponte Nova, a partir de trabalho de mestrado em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania de Janice Estarlino Vidal, moradora do distrito do Pontal, em 2019, na conclusão do Curso de História na Universidade Federal de Viçosa/UFV.
Ela é filha de João Evangelista Vidal e Marilda Aparecida Estarlino Vidal, a quem agradece pela conquista (conclusão do mestrado): “Sempre me impulsionaram e deram suporte às minhas conquistas.” Saúda também “os ancestrais negros, por toda a coragem de resistir”.
Na justificativa de seu trabalho “Tempo de folia: um estudo do Carnaval em Ponte Nova/MG na primeira metade do século XX”, Janice ressalta a importância do debate sobre a cultura de matriz africana e suas influências, “pois valoriza os costumes de um povo que ainda hoje sente as adversidades provindas da escravidão”.
A pesquisa de Janice também se refere à sua monografia “O território do samba em Ponte Nova/MG: marca da resistência de um passado escravocrata”, cujo objeto de estudo consistiu em estudar uma tradicional Escola de Samba de Ponte Nova: Academia de Samba do Bairro de Fátima.
A partir da observação dessa Escola, tal pesquisa apresentou discussões sobre o samba no Carnaval do referido município, tendo como recorte temporal os anos que se estendem de 1950 a 2015.
Ainda identificou-se que a presença da festa é de longa data na localidade, sendo encontrados relatos dessa manifestação no início do século XX, com destaque para a falta da participação da população negra na festa de Carnaval. “A presença das Escolas de Samba está associada ao enraizamento cultural da população negra da cidade”, concluiu ela.
A pesquisadora entrevistou algumas personalidades da nossa folia: Carlos Pinto da Paixão, filho de Totinho Paixão, um incentivador da Escola de Samba Vila Cruzeiro (bairro de Fátima) no início do século XX; Rivalino Antônio da Silva, organizador da mesma Escola de Samba; o carnavalesco Olegário Lopes Neto, Rei Momo por 13 anos; e Paulo Galli, ex-presidente da Academia de Samba do Bairro de Fátima e grande entusiasta da folia”.
Janice recorreu aos jornais de época disponíveis no Arquivio Público Municipal, analisando reportagens de: A Notícia, Correio da Semana, Correio da Mata, Jornal do Povo, O Município, O Piranga e Gazeta da Mata.
“Durante as pesquisas, percebemos que o Carnaval local apresentou similaridades com as formas momescas de diferentes localidades do Brasil, tendo apresentado, por exemplo, Ranchos, Blocos, Cordões, Bailes e Escolas de Samba”, assinalou a autora para continuar:
“A pesquisa teve o intuito de compreender como era brincado o Carnaval pelos segmentos mais pobres desse período, especialmente pelo fato de a configuração populacional do município relacionar-se fortemente com a diáspora negra e pela proximidade do recorte temporal com a abolição da escravidão.” Ela dedicou a pesquisa aos seus familiares, "aos ancestrais negros, por toda a coragem de resistir". Ao discorrer sobre o Carnaval de Ponte Nova, “fez-se necessário tecer sobre a formação populacional do local para isso, e dentre as informações que apresentamos evidenciamos o quantitativo de escravizados na localidade, pois a cultura negra se fez presente no Carnaval pontenovense no recorte temporal definido”.
A autora discute em sua dissertação as diferentes manifestações carnavalescas que se realizaram em Ponte Nova, com a presença de dois modelos de festa: uma mais luxuosa e menos acessível, realizada, sobretudo, nos clubes, e outra de caráter popular, festejada nas ruas. Os dois modelos revelam que o primeiro era organizado para a elite e o outro para a população pobre.
“Com perfis de público e de formas de festejar diferentes, as festas carnavalescas podem ser reveladoras de preconceitos, segregação, insubordinação à ‘ordem’ e obviamente de diferentes modelos de divertimento. Os preconceitos e a segregação tornam-se perceptíveis”, concluiu ela.
O primeiro documento por ela pesquisado foi “A Alvorada”, de1906, com relado do bloco do Zé Pereira e uma festa privada no Clube Democrata.
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