SAÚDE

Angústia e o Estoicismo

18/10/2018 15:00




Raquel Rodrigues Marques de Sousa - Psicóloga e Coach - CRP 04/23796
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Qual é a origem de nossas angústias? Por que vivemos tão preocupados, tão magoados com as coisas que acontecem no mundo? O que podemos fazer para que sejamos capazes de viver uma vida mais plena, mais livre e menos dolorosa?

Estas perguntas são centrais a um sistema de pensamento que floresceu na antiguidade grega e romana e ficou conhecido como Estoicismo ou Escola Estoica. A pretensão é que os estoicos possam nos ajudar a ver o mundo de maneira diferente e, talvez, menos angustiada.

A filosofia é uma maneira de viver que busca nos salvar das angústias primordiais: daquilo que é incontrolável e irreversível. O passado já se foi e não retornará e, por isso, está morto, e o futuro, que ainda não existe e quando vir a existir não será como imaginamos ou gostaríamos que fosse, também está morto, por definição. O caminho para a salvação é o uso da racionalidade: o bom uso das nossas faculdades intelectivas.

O Estoicismo foi fortemente influenciado por Aristóteles, que acreditava que o universo era um grande organismo vivo, onde em tudo que existe há uma finalidade, ou seja, o universo/cosmos é ordenado e perfeito. Quando achamos que há algo imperfeito, é porque não estamos olhando para o escopo geral. Aqueles que não conseguem este entendimento sofrem de uma ilusão, porque estão enxergando apenas o detalhe, sem chegar a uma inteligência racional do todo.

Para eles, há uma divindade na natureza, uma alma, portanto a matéria é entendida como ser vivo, e há no cosmos uma racionalidade inerente (“logos” para os gregos) a ele mesmo. Esta divindade do mundo é, ao mesmo tempo, imanente - a existência é inseparável do mundo - e transcendente - é externo e superior a nós, seres humanos, ou seja, independe de nossas vontades, desejos e ações.

Qual é a melhor forma de viver e conviver neste universo que funciona deste jeito específico? Quais são os nossos deveres nesse universo, se desejamos ter uma vida que vale a pena ser vivida? A resposta é óbvia: devemos nos juntar ou nos ajustar ao cosmos, nos adequando da melhor forma possível a essa ordem maravilhosa que rege o universo, usando para tal exercícios de sabedoria que podemos adotar hoje e melhorar nossas vidas.

Para os estoicos, as nossas angústias derivam da tentativa de controlar o incontrolável, e é fácil compreender que o universo não está nem aí para as nossas vontades, o mundo não nos deve nada e ele deixa isso claro todos os dias.

Gastamos tempo e energia pensando em coisas que estão totalmente fora do nosso controle, totalmente fora da nossa capacidade de influência. Quantos por cento do que nos angustia são coisas que estão sob nosso controle? Há quatro pontos que precisamos aprender:

1) Identificar e separar o que está e o que não está sob nosso controle e, definitivamente, não nos angustiarmos com o que está fora do nosso controle.

2) Compreender que o passado e o futuro são âncoras que pesam a vida, limitando a nossa liberdade e plenitude.

3) Condenar a esperança (no sentido de esperar), entendendo-a como inimiga de uma boa vida. Quem vive esperançoso não tem conhecimento (do fato que espera), não tem controle e não vive a vida esperada, enquanto a vida possível passa por ele.

4) Ter cuidado com as expectativas, pois a maior parte das vezes em que nos frustramos é por expectativas inadequadas, por termos esperança de que o mundo nos deva algo e que nos dará o que desejamos.

O grande aprendizado que se pode tirar é que devemos usufruir o que está em nosso controle, controlar o que é controlável e viver da melhor forma possível com o conhecimento do que está em nossas mãos, no momento presente e com as pessoas que, de fato, fazem parte de nossas vidas. Qualquer coisa diferente dessas perspectivas transformar-se-á numa vida que não valerá a pena ser vivida.

 

 


 







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